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Jornalismo_Digital

Resenha sobre O Estudo da Narratividade no Ciberjornalismo, de Luciana Mielniczuk

Por: Adriele Sousa, Yasmin do Vale, Danilo Pestana

Em seu texto “O Estudo da Narratividade no ciberjornalismo” (2008), Luciana Mielniczuk, hoje professora na  Universidade Federal do Rio Grande do Sul, fala que, em meados da década de 1990, o termo jornalismo digital ou ciberjornalismo referia-se, na maioria das vezes, às versões de jornais impressos, diários e de modelos comerciais desenvolvidas para a web. Depois de pouco mais de uma década, surgiram vários tipos de produtos que compõem o universo das publicações jornalísticas no ciberespaço, por exemplo, os jornais impressos de referência, com suas versões para a internet; as publicações jornalísticas desenvolvidas exclusivamente para a internet; os portais, os jornais laboratoriais de cursos de jornalismo e os blogs jornalísticos.

Luciana também aborda que a utilização das bases de dados e o incremento das ferramentas permitem o uso de infografias multimídia com maior facilidade, deixando uma marca muito forte no desenvolvimento do hipertexto nas narrativas hipertextuais, o que nos leva ao hipertexto em dois momentos: em sites estáticos (programados em linguagem HTML) e em sites dinâmicos (estruturados em base de dados, por exemplo, programados em linguagem PHP), cuja diferença consiste, nos sites estáticos, no funcionamento do hipertexto como a estrutura de organização e acréscimo de informações e também como a interface de acesso ou visualização das informações, e, nos sites dinâmicos, essa estrutura de organização e acréscimo de informações é realizada pela base de dados e a visualização é realizada através de hipertextos que se estruturam de maneira dinâmica a partir das buscas solicitadas pelos interagentes.

Então, é possível relacionar o cenário citado com o que se convencionou a chamar de web 2.0: plataforma na qual processos dinâmicos e interativos são bastante aplicados. Essa diferenciação é usada para tentar situar perspectivas diferenciadas de estudos sobre o hipertexto, tendo como foco a narrativa jornalística nos cibermeios.

Hipertexto na web

Como estudar o hipertexto no ciberjornalismo; por onde começar; quais caminhos seguir? Esses são questionamentos recorrentes. Para entender a relação entre hipertexto e jornalismo e, como o primeiro expande as possibilidades da narrativa jornalística, é preciso considerar que algum caminho já foi traçado há mais de dez anos, quando outros autores já se preocupavam com a escrita literária através do computador.

A proposta da autora é buscar a teoria do hipertexto em seu início, sem ignorar os seus avanços na área da literatura, sedimentando um caminho próprio que contemple as especificidades do jornalismo. Portanto, encontramos muitas abordagens que procuram classificar modelos de hipertextos ou estudá-lo conforme o emprego do elemento link, pois os hipertextos eram desenvolvidos em linguagem HTML e eram organizados/conectados através desses elos de ligação, os links.

Tipos de hipertextos

Há duas estruturas diferenciadas de hipertexto, apontadas pelos autores citados no texto (Leão, 2001, e Landow, 1995): uma menos complexa, denominada de arborescente; a outra, com um maior grau de complexidade, está organizada em rede. O primeiro tipo de estrutura estaria atrelada à ideia de um livro digital, enquanto a segunda remete à ideia de redes interconectadas.

Modelos de narrativas hipertextuais

Diaz Noci y Salaverría (2003) apresentam uma série de modelos de narrativas hipertextuais que podem ser aplicadas ao jornalismo. Salaverría (2005) alerta para o fato de que apenas inserir links em textos não é o suficiente para construir uma narrativa hipertextual. Em linhas gerais, os autores apresentam duas estruturas hipertextuais: as axiais e as reticulares, como explicado na imagem abaixo.

Para esclarecer melhor: na estrutura reticular, a narrativa parte de um eixo principal e pode ser dividida em outras sequências que podem seguir uma linearidade própria ou ainda podem convergir em uma sequência principal. Assim, a notícia oferece ao leitor diversos caminhos de leitura. A não-linear remete à ideia de poder ler um hipertexto na ordem desejada, ao contrário da leitura linear tradicional dos livros, basta para isso clicar nos links que correspondem às lexias escolhidas. Já a multisequencial ou multilinear é a que possui várias linearidades, ou várias sequências; a seqüência de textos muda de acordo com as ações do leitor frente ao texto.

Tipologia dos links

Nessa parte do texto, Mielniczuk (2008) expõe as diferentes abordagens segundo autores que estudam os links sob perspectivas específicas, alguns listados a seguir.

Gunder

Estabelece categorias e códigos para a identificação dos tipos de links e o fluxo dessas ligações dentro de uma página web. A autora está muito voltada para o ‘esqueleto’ do hipertexto e das ligações por ele estabelecidas, então ela está preocupada se o link é unidirecional ou bidirecional, se ele está visível ou oculto, por exemplo.

Trigg

É proposta a elaboração de uma taxionomia para os tipos de links. A preocupação central de sua pesquisa é com os textos científicos disseminados nas redes digitais. O autor divide os links em duas grandes categorias: os normais e os de comentários. Por links normais entende-se conexões entre lexias pertencentes a trabalhos científicos distintos, já os de comentários remetem a lexias que discorrem acerca de uma proposição ou dados. O próprio autor adverte que certas divisões não funcionam de maneira estanque e que um mesmo link pode atender a mais de uma função ao mesmo tempo (Trigg, 2002).

Atendo-se aos links normais para delinear as diferentes partes de um texto científico, Trigg lista vários tópicos, como:

Citações: são as declarações, trechos de outros autores.

Revisão bibliográfica: a palavra utilizada por Trigg é background e remete para a apresentação de trabalhos já desenvolvidos por outros autores ou pelo mesmo autor que está elaborando o hipertexto.

Futuros: links a ser ativados quando surgirem novos trabalhos sobre o assunto.

Refutação: revogação de idéias de demais autores.

Concordância: aceitação de idéias de outros autores.

Metodologia & Dados: equipamentos utilizados, rotinas de trabalho, apresentação de dados.

Generalização & Especificação: O autor não oferece explicações para esse tópico, porém a interpretação do que venham a significar esses links parece não oferecer dificuldades.

Abstração & Exemplo: idem ao item anterior.

Formalização & Aplicação: refere-se à sistematização de noções que levam a uma teoria e suas aplicações para a obtenção de resultados práticos.

Argumentação: o autor divide a argumentação em quatro sub-categorias: dedução, indução, analogia e intuição.

Solução: não, necessariamente, se trata apenas da solução do problema de pesquisa, mas também dos avanços realizados pelo pesquisador.

Nielsen

Identifica três tipos de links. Podemos dizer que se trata de uma classificação quanto à função que eles desempenham:

“- Links de navegação estrutural. Esses links resumem a estrutura do espaço de informação e permitem aos usuários ir a outras partes do espaço. Exemplos típicos são botões de homepages e links a um conjunto de páginas subordinadas à página atual.

– Links associativos dentro do conteúdo da página. Esses links são normalmente palavras sublinhadas (embora possa ser também image maps) e apontam para páginas com mais informações sobre o texto âncora.

– Lista de referências adicionais. (…) Esses links são oferecidos para ajudar os usuários a encontrar o que desejam se a página atual não for a correta. Considerando-se a dificuldade de navegar na Web, os usuários muitas vezes são salvos por um conjunto bem escolhido de links Consulte também” (Nielsen, 2000, p. 53).

Leão

Já para Leão (2001), os links são classificados como conjuntivos e disjuntivos. O último direciona o leitor para outra lexia, enquanto o primeiro, apesar de realizar a mesma tarefa, permite uma ideia de simultaneidade, porque utiliza o recurso de uma janela simultânea.

Mielniczuk (perspectiva do Jornalismo)

Para as narrativas hipertextuais jornalísticas, Mielniczuk (2008, 2003), sugere a seguinte tipologia preliminar dos links:

Navegação (conjuntivo e disjuntivo); universo de abrangência (internos e externos); organização da publicação (editorial, organizativos, narrativos, serviços, publicidade), acontecimento, detalhamento, oposição, exemplificação ou particularização, complementação ou ilustração, memória.

O texto de Luciana Mielniczuk, aqui resenhado, apresenta abordagens e preocupações sobre o estudo de narrativas hipertextuais trabalhadas em diversos autores que se dedicam à temática.

Sobre impressaodigital126

produto laboratorial da Oficina de Jjornalismo Digital da Facom/UFBA

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